terça-feira, 27 de novembro de 2007


Caros amigos,

Hoje é o dia em que celebramos Santa Catarina Labouré, a Filha da Caridade por intermédio da qual, Maria fundou o nosso Movimento JMV.

Por esta razão quero partilhar convosco algumas das reflexões feitas no nosso encontro regional.


"Em termos teológicos, a comunidade é a realização da Igreja tal como Jesus a sonhou e a fez nascer no Pentecostes.
É um organismo vivo em crescimento.
É um corpo animado pelo Espírito Santo (ICor 10,17; 12,27).
As relações são interpessoais, de amizade, partilha, diálogo e solidariedade.
Na comunidade todos se conhecem pelo nome.
Existe um objectivo comum.
Todos tomam parte na programação, nas decisões e na execução da missão da comunidade."


O papel de cada membro é respeitado pelos outros.
A comunidade não admite homens faz-tudo.
Os homens faz-tudo desmotivam as pessoas para o compromisso.
É mais eficaz muitos a fazer pouco do que poucos a fazer muito.
Na comunidade, a grande paixão é a causa do Evangelho.


A oração não é por causa de Deus. É por causa dos crentes. Deus não se transforma nem muda de opinião. O homem é que se transforma e é capaz de saborear os acontecimentos com o sentido da plenitude de Deus.
Quem se transforma, na oração, é o crente e não Deus.
As normas e o projecto comum têm como finalidade facilitar a organicidade e fecundidade comunitárias.
Não abafam nunca a vida.
Quando já não se adequam ao crescimento comunitário, as normas e as programações são alteradas."


Quero também pedir àqueles que participaram neste encontro que partilhem as suas experiências de modo a enriquecerem esta celebração.


Um grande abraço em Cristo

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Cristo Rei do Universo


"O Reino de Deus é um reino de paz, justiça e alegria..."

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A IGREJA PORTUGUESA E AS OVELHAS QUE FOGEM DO REDIL


A IGREJA PORTUGUESA E AS OVELHAS QUE FOGEM DO REDIL

João Miguel Tavares


Tanta orelha santa a arder. Os bispos portugueses promoveram uma série de relatórios diocesanos - que embora confidenciais todos sabem o que dizem: menos padres, menos gente na missa, menos baptizados -, foram mostrá-los ao Papa e vieram de lá com um raspanete dos grandes, ainda que proferido naquele tom eclesiástico que mistura elogios, sorrisos beatos, citações da Bíblia e alfinetadas. Que eu saiba, não há memória de um Papa se dirigir à Igreja portuguesa convidando-a a "mudar o estilo de organização e a mentalidade dos seus membros" perante a "maré crescente de cristãos não praticantes" nas dioceses. Mudar de estilo e de mentalidades não é o mesmo que mudar a cor das vestes litúrgicas ou afinar os cânticos das missas - é mudar tudo. São palavras duríssimas de Bento XVI, tanto mais significativas quanto politicamente até correm o risco de fragilizar a Igreja nos embates que tem tido com o Governo, como foi o caso recente das capelanias hospitalares.Ainda assim, talvez o seu discurso consiga o milagre de promover um debate alargado sobre o estado da Igreja em Portugal, que é bem preciso. Quando no espaço público se discutem os problemas da Igreja, em 90% dos casos é conversa sobre sexo - desde o celibato dos padres ao uso dos contraceptivos, passando pela posição do Vaticano sobre a homossexualidade. Mas essa é apenas a árvore que esconde uma floresta de problemas. Quem está de fora nem sequer sabe que existem, mas eles estão lá, e o Papa apontou dois: o défice de "participação na vida comunitária" e a falta de "eficácia dos percursos de iniciação actuais", sendo que o primeiro acaba por ser uma consequência natural do segundo. Traduzindo para português, a referência aos "percursos de iniciação" quer dizer uma coisa muito simples: os cristãos portugueses estão mal preparados, vivem agarrados a uma religiosidade popular mal fundamentada e isso faz com que entre o fim da infância e o início da idade adulta boa parte das ovelhas se pisgue do redil. Curiosamente, é uma questão de estatística. Em Portugal baptiza-se quase tudo à nascença, aos sete anos faz-se a primeira comunhão e aos 15 despacha-se o crisma - como se fosse possível aos sete alguém compreender a profundidade da eucaristia e aos 15 estar em condições de afirmar a maturidade da sua fé. Esta juvenília religiosa é boa para se chegar aos noventa e tal por cento de católicos em Portugal, mas leva a que aos 15 esteja feita a licenciatura cristã e que aos 18 já só haja jovens no coro. O preço que se paga é muito alto: ficam apenas fiapos de fé. E por isso Fátima enche, enquanto as igrejas se esvaziam.

sábado, 10 de novembro de 2007

Leituras

LEITURA I

2 Mac 7, 1-2.9-14
«O Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna»

Leitura do Segundo Livro dos Macabeus

Naqueles dias, foram presos sete irmãos, juntamente com a mãe, e o rei da Síria quis obrigá-los, à força de golpes de azorrague e de nervos de boi, a comer carne de porco proibida pela Lei judaica. Um deles tomou a palavra em nome de todos e falou assim ao rei: «Que pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos para morrer, antes que violar a lei de nossos pais». Prestes a soltar o último suspiro, o segundo irmão disse: «Tu, malvado, pretendes arrancar-nos a vida presente, mas o Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna, se morrermos fiéis às suas leis». Depois deste começaram a torturar o terceiro. Intimado a pôr fora a língua, apresentou-a sem demora e estendeu as mãos resolutamente, dizendo com nobre coragem: «Do Céu recebi estes membros e é por causa das suas leis que os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo». O próprio rei e quantos o acompanhavam estavam admirados com a força de ânimo do jovem, que não fazia nenhum caso das torturas. Depois de executado este último, sujeitaram o quarto ao mesmo suplício. Quando estava para morrer, falou assim: «Vale a pena morrermos às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida».

Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL

Salmo 16 (17), 1.5-6.8b.15 (R. cf. 15b)
Refrão: Senhor, ficarei saciado,
quando surgir a vossa glória. Repete-se

Ouvi, Senhor, uma causa justa,
atendei a minha súplica.
Escutai a minha oração,
feita com sinceridade. Refrão

Firmai os meus passos nas vossas veredas,
para que não vacilem os meus pés.
Eu Vos invoco, ó Deus, respondei-me,
ouvi e escutai as minhas palavras. Refrão

Protegei-me à sombra das vossas asas,
longe dos ímpios que me fazem violência.
Senhor, mereça eu contemplar a vossa face
e ao despertar saciar-me com a vossa imagem. Refrão


LEITURA II

2 Tes 2, 16 – 3, 5
«O Senhor vos torne firmes em toda a espécie
de boas obras e palavras»

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses

Irmãos: Jesus Cristo, nosso Senhor, e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu, pela sua graça, eterna consolação e feliz esperança, confortem os vossos corações e os tornem firmes em toda a espécie de boas obras e palavras. Entretanto, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague rapidamente e seja glorificada, como acontece no meio de vós. Orai também, para que sejamos livres dos homens perversos e maus, pois nem todos têm fé. Mas o Senhor é fiel: Ele vos dará firmeza e vos guardará do Maligno. Quanto a vós, confiamos inteiramente no Senhor que cumpris e cumprireis o que vos mandamos. O Senhor dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com perseverança.

Palavra do Senhor.


ALELUIA Ap 1, 5a.6b
Refrão: Aleluia. Repete-se
Jesus Cristo é o Primogénito dos mortos.
A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Refrão


EVANGELHO – Lc 20, 27-38
«Não é um Deus de mortos, mas de vivos»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus – que negam a ressurreição – e fizeram-lhe a seguinte pergunta: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se morrer a alguém um irmão, que deixe mulher, mas sem filhos, esse homem deve casar com a viúva, para dar descendência a seu irmão’. Ora havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. O segundo e depois o terceiro desposaram a viúva; e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram e não deixaram filhos. Por fim, morreu também a mulher. De qual destes será ela esposa na ressurreição, uma vez que os sete a tiveram por mulher?». Disse-lhes Jesus: Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já não podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos».

Palavra da salvação.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Sacrifícios Ambientais!!!!!


"A maioria das pessoas está disposta a fazer sacrifícios pessoais, como por exemplo pagar combustíveis mais caros, com o objectivo de diminuir o impacto das alterações climáticas"


Esta era a notícia apresentada hoje num jornal português... Sim senhor temos cidadãos conscientes... que maravilha.

Esta questão do impacto nas alterações climáticas por vezes assume contornos de ridiculo. Já repararam que sempre que se fala em melhorar o ambiente se refere que um aumento das contribuições sobre os combustíveis ou as industrias poluidoras... Como se esse fosse um verdadeiro sacrifício... Quem é rico... pode continuar a poluir (são só mais uns euros para manter o nível de conforto)... mas quem é pobre esse sim vê-se diminuído.

É claro que também há algumas figuras públicas que afirmam fazer sacrifícios pelo ambiente e até se declaram grandes defensores da natureza... e isto porque... imaginem... fazem reciclagem...

Que ridiculo que tudo isto é... falam de sacrifícios... Pois sacrifício será quando todos tivermos de reduzir o nosso consumo de água, tivermos de abdicar de parte do nosso conforto, tivermos de restrigir as nossas viagens ao estritamente essencial... e como profeta da desgraça... acreditem que esse dia virá.

Por agora... aumentam-se os impostos... afinal é a maneira mais fácil!!!!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

POR UM MUNDO MAIS LIVRE E MAIS JUSTO


O ano de 2019 foi o momento de todas as vitórias para as organizações de defesa da liberdade, saúde e direitos humanos. Logo em Janeiro foi finalmente aprovada a directiva comunitária exigindo a eliminação de todos os brinquedos alusivos a armas. Este documento veio na sequência da campanha internacional contra perigos na infância que, começada em 2012, já impusera o capacete permanente nos bebés.Esta directiva de defesa da família impõe, como as anteriores, castigos pesados aos pais que permitirem às crianças ter armas a brincar. Castigos que podem ir até à retirada dos filhos. "Negligência é violência" é a célebre frase de Vladimir Sarkazeth, czar da Rússia que detém a presidência rotativa da União Continental: "A União vai dedicar toda a sua atenção à violência familiar, um flagelo que vamos erradicar por todas as formas, até nas brincadeiras", assegurou.Muito significativo foi que, duas semanas depois, se tenha dado finalmente a consagração do sadomasoquismo como orientação sexual reconhecida pela ONU. Isto logo no ano após o Prémio Nobel ser atribuído a dois investigadores da Califórnia que identificaram a homossexualidade como a forma mais igualitária de matrimónio. Congratulando-se com a eliminação do terrível tabu contra o sadomasoquismo, o director da poderosa FreeSex, a maior ONGD do mundo, afirmou: "A sociedade parece ter vencido velhos preconceitos contra a violência. A violência é simplesmente a forma suprema do amor."No final da conferência de imprensa este dirigente lembrou a velha luta pela justiça sexual: "É urgente a verdadeira igualdade para todas as orientações. O sadomasoquista corre grandes riscos de saúde na sua expressão violenta da afectividade. Encontra-se por isso desfavorecido e necessita de apoio adicional." Assim continuará a promoção das chamadas "salas de chuto", onde os sadomasoquistas se podem dedicar às suas práticas em adequadas condições sanitárias.Talvez o facto mais marcante do ano de 2019 tenha sido o avanço na luta contra o flagelo da obesidade. Desde que o tabagismo foi classificado como crime contra a Humanidade e equiparado a genocídio, houve grande discussão sobre que prática lhe sucederia como "principal causa evitável de morte". A tentativa de incluir o aborto e a eutanásia foi recusada porque eles já figuram entre os direitos humanos fundamentais. Deste modo foi decidido que seria a obesidade a ocupar essa posição, o que lhe concedeu grande exposição mediática.Por enquanto ainda se mantém controversa e, por isso, facultativa a exigência de todos os obesos usarem um cartaz ao pescoço dizendo "comer mata" ou "banha é crime". Mas a decisão tomada há cinco anos de proibir a venda de alimentos com alto teor de gordura a menores de 18 anos, sujeitando-a a licença especial acima dessa idade, começa a dar frutos. De facto, pela primeira vez desde que foi calculado, o "índice de engordamento global" reduziu a sua taxa de aceleração.Um campo onde os esforços ainda têm longo caminho a percorrer é a luta contra a pobreza. Isto apesar dos êxitos assinaláveis, como o fecho de centenas de instituições de solidariedade social por falta de condições. É incrível como, em pleno século XXI, ainda há lares e creches sem toalhetes de papel, música ambiente e acesso à Internet e TV Cabo. Paradoxalmente, este êxito da inspecção foi acompanhado por um aumento súbito dos sem-abrigo nessas cidades. "Isto apenas fortalece o nosso empenhamento neste magno objectivo planetário", afirmou a secretária-geral da ONU, Camila Nguyoon, no final da maior iniciativa humanitária do ano.Essa foi a principal realização de 2019: o cordão humano que uniu Paris e Berlim, como prova da determinação dos povos europeus na construção de um mundo mais livre e mais justo. Foi marcante que esse movimento tenha mobilizado um número de pessoas 3% superior ao da magna manifestação pela erradicação da tradição islâmico-judeu-cristã que, com o mesmo lema - "Por um mundo mais livre e mais justo" - se realizou na semana anterior em Roma.

João César das Neves, professor universitário

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Apocalipse de João

Ola Amigos. encontrei este discurso sobre o Livro do Apocalipse e achei por bem partilhar convosco. um abraço em Cristo.


DISCURSO DO CARDEAL TARCISIO BERTONE
POR OCASIÃO DA EXPOSIÇÃO
SOBRE O LIVRO DE SÃO JOÃO:
«APOCALIPSE. A ÚLTIMA REVELAÇÃO»

Salão Sistino dos Museus do Vaticano
Quinta-feira, 18 de Outubro de 2007

Senhores Cardeais
Excelentíssimo Presidente do Governatorato
do Estado da Cidade do Vaticano
Excelências Reverendíssimas
Senhores Embaixadores
Senhor Director dos Museus do Vaticano
Ilustres Autoridades
Senhores e Senhoras

É com alegria que participo nesta cerimónia com que se inaugura uma exposição de importância singular, e desejo manifestar em primeiro lugar o meu sincero agradecimento àqueles que puseram à disposição energias, competências e meios para nos oferecer um apreciado itinerário artístico e teológico, intitulado: "Apocalipse. A última Revelação". Saúdo com deferência os Senhores Cardeais e os prezados co-irmãos no Episcopado aqui presentes, os Excelentíssimos Senhores Embaixadores junto da Santa Sé de numerosos países, as Autoridades civis e militares, as personalidades e os benfeitores que quiseram estar presentes neste acto tão solene.

Dirijo uma saudação especial ao Excelentíssimo Presidente do Governatorato, D. Giovanni Lajolo, e depois a todos os presentes, com particular reconhecimento aos corais que desejaram alegrar esta cerimónia, colocando-nos deste modo em continuidade ideal com o novo cântico dos remidos, descrito pelas páginas do Apocalipse. Gostaria de agradecer, entre muitos outros, ao Dr. Francesco Buranelli, Director dos Museus do Vaticano, que quis realizar aqui esta exposição, e através da pessoa do seu Presidente, o Rev.mo Mons. Angelo Zanello e do animador incansável, Pe. Alessio Geretti, quero agradecer à Comissão de San Floriano de Illegio e a toda a população de Illegio, da Carnia e do Friuli que, em conjunto, deram vida a esta exposição. O nosso agradecimento é grande também em relação aos representantes das numerosas instituições do Vaticano e da Itália, que ofereceram a sua colaboração para preparar a excelente exposição que estamos prestes a visitar.

No percurso predisposto no Salão Sistino poder-se-á admirar mais de cem obras-primas provenientes de alguns dos principais museus do mundo, que ajudarão os visitantes a reler e a compreender o último livro da Sagrada Escritura. Nele, o vidente João dirige-se às Igrejas que estão na Ásia Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiátira, Sardi, Filadélfia e Laodiceia e idealmente à Igreja inteira, exortando os discípulos de Jesus a permanecerem firmes na fé e a não se deixarem seduzir, nem amedrontar pelos poderes malignos deste mundo, aparentemente aniquiladores, mas na realidade destinados à falência.

Portanto, o Apocalipse não é como muitas vezes se considera o inquietante anúncio de um epílogo catastrófico pelo caminho da humanidade, mas a grandiosa proclamação da falência das forças infernais e do mistério de Cristo morto e ressuscitado como salvação para a história e para o cosmos.

A leitura do Apocalipse, como a visão do Juízo Universal na Capela Sistina, desperta indubitavelmente uma emoção na alma. Mas trata-se da emoção do enlevo, da majestade e da misericórdia surpreendente que vêm ao nosso encontro, e não do arrepio tétrico e desesperado da ruína e do medo. Estas páginas e estas obras de arte não nos querem assustar, mostrando-nos as cenas da eternidade: pelo contrário, querem recordar-nos a vida que aqui na terra se consome e que todos os dias nós impregnamos com a qualidade dos nossos gestos.

Ler no Apocalipse o anúncio da Ressurreição final é em si uma consolação e uma forma de justiça. Não podemos esquecer que o mundo só será justo quando os mortos ressuscitarem, quando todas as feridas forem curadas, todas as lágrimas enxugadas, quando todos os discursos interrompidos forem retomados, e atendidos todos os desejos de bem. Neste sentido, a visão da Jerusalém celeste não é apenas a última parte do Apocalipse e da exposição, mas inclusivamente uma exigência lógica, um postulado da moralidade e uma condição imprescindível para que falar de justiça possa ter algum sentido.

Outra característica positiva do Apocalipse que se compreende com clareza somente se for lida de uma só vez, como a exposição no Salão Sistino propõe e permite pode ser descrita de maneira adequada, orientando o coração para a excelsa poesia do texto mais longo, imaginário e sugestivo da Missa de Requiem, sabiamente citado nos painéis da exposição, como uma obra de arte entre as outras. Dos cinco poemas que o Missal conservava sob o nome de Sequências, o Dies Irae, de Tomás de Celano, é o último; o primeiro é o Victimae Paschali. Um refere-se ao outro: o primeiro é para o último o que a Ressurreição de Cristo é para a ressurreição universal, dado que constitui o seu tema e a sua causa.

"Aquele dia, o dia da ira...": pois bem, a tradição cristã latina aprendeu do Apocalipse que a ira divina deve ser cantada precisamente e só para narrar a sua dissolução e a sua subversão através do amor do Anjo inocente, que se ofereceu para o nosso resgate. Isto compreende-se na estratégia narrativa do Apocalipse, quer no percurso artístico das obras expostas, quer no Dies Irae. As primeiras sete estrofes desta oração medieval descrevem o terrível cenário da vinda do Soberano no Juízo Final. No entanto, a partir da oitava estrofe tem lugar, precisamente, a inversão: este Juiz agora por nós chamado Jesus é exactamente Aquele que salva sem qualquer motivo, "gratuitamente". E precisamente porque não tem justificações, o homem deve ser salvo por Alguém que o ame com um amor puro: em síntese, por um amor digno de Deus!

Portanto, o que acontece quando lemos o Apocalipse e admiramos a sua tradução encantadora, feita de imagens que muitos artistas nos deixaram como herança? Significa que devemos sair desta leitura ou do nosso Salão Sistino com a certeza no coração, de que a última palavra na nossa aventura terrestre, pessoal e colectiva, não pertence à morte nem ao mal.

E enquanto a confissão da nossa fé significa a expectativa do encontro supremo e definitivo da humanidade com Deus em Cristo, as páginas apocalípticas, as gravuras e as pinturas que descrevem as sublevações da terra e dos povos preparam-nos sabiamente para a rejeição radical de qualquer outra realidade como possível realização do mundo e do homem. O Apocalipse ajuda a conservar o coração livre das infinitas seduções que querem encantar o mundo com mil sortilégios, oferecendo-lhe aquilo que somente em Deus ele poderá encontrar. Não esqueçamos: como dizia o grande Agostinho, o Senhor criou para si o nosso coração, e este não terá paz enquanto não descansar nele".

No entanto, aqui na terra, desde o princípio da vicissitude humana até ao advento das núpcias finais, o bem e o mal enfrentam-se no cenário sublime e ao mesmo temo terrível deste mundo. E é precisamente por ele que, no final, seremos libertados e protegidos irrevogavelmente da falibilidade, da ignorância, do cansaço, da velhice, do sofrimento e da vaidade, mas sobretudo da possibilidade de pecar, da absurda possibilidade de preferir uma criatura ao Criador. Eis, então, que a imagem da Jerusalém celeste, feita de ouro incorruptível e guarnecida de jóias como o magnífico relicário de Tournai, que podemos ver aqui exposto é a imagem da glória que desce do alto até às vísceras da terra, ou seja, até às fibras do nosso ser total alma e corpo quando nada mais oporá alguma resistência. E isto aconteceu imediatamente com Maria Santíssima e Imaculada, porque nela nada jamais opôs resistência ao amor a Deus.

Então, não nos resta que dirigir consolados o olhar para a beleza do texto do Apocalipse, a oração da Igreja e as obras dos artistas.

Concluo, sublinhando que sem dúvida esta exposição, além de ser preciosa pelas mensagens propostas, constitui um "unicum" do seu género, também porque os Museus do Vaticano a receberam e acolheram, depois de ela já ter sido exposta numa pequena aldeia dos alpes cárnicos, Illegio, a terra da Comissão de San Floriano. Visitei aquele povoado montanhês, onde pude inaugurar esta exposição: Illegio não é uma metrópole, nem uma histórica capital da arte. Mas é um lugar onde a fé e a arte se encontraram na terra fértil do coração das pessoas, pois garanto-o porque verifiquei isto pessoalmente esta exposição é uma realidade da população, fruto de um compromisso assumido por muitas pessoas que desejavam prestar um serviço ao Evangelho, à difusão do pensamento cristão, à promoção dos tesouros de beleza e de tradição cristã da sua terra friulana e, de certa maneira, de toda a Europa. Por isso, que o Senhor os abençoe e os anime a continuarem com muito entusiasmo.

Seja permitido aos visitantes desta exposição, dos Museus do Vaticano e a todos nós estes são os meus bons votos que através da admiração destas obras de arte, sejamos levados ao encontro com o Senhor Jesus e possamos reconhecer toda a sua beleza fulgurante. Confio estes votos à intercessão celestial da Virgem Maria Imaculada e do Arcanjo São Miguel, que na narração do Apocalipse nos são descritos em virtude do Redentor vitoriosos sobre o imenso Dragão. A humildade do seu serviço a Deus foi o instrumento que lhes permitiu realizar a obra daquele que nos quer tornar partícipes da sua glória para sempre: o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, uma maravilha aos nossos olhos.